No próximo dia 19 comemora-se o Dia Mundial da Doação de Leite Humano e, ao longo de toda esta semana (16 a 20 de maio), ocorre a Semana Mato Grosso de Doação de Leite Humano 2022, que traz como tema “Gotas de amor para um mundo melhor” (veja a programação completa clicando aqui). A abertura do evento contou com diversas apresentações valiosíssimas (que podem ser conferidas clicando aqui), mas hoje vou me deter à participação da Valléria Isadora Castro de Almeida, 31, mãe de Arthur, 11, e de Enzo, 4. Ela participou da mesa de abertura enquanto doadora de leite humano que foi quando teve o filho caçula, junto ao banco de leite do Hospital Geral Universitário (HGU) “Dr. José de Faria Vinagre”, em Cuiabá.
Valléria conta que, desde quando foi mãe pela primeira vez, teve muito leite. “Eu usava fralda de pano. Ficava o tempo todo com a fralda de pano porque vazava muito”. Mas ela não tinha conhecimento sobre a possibilidade de doação de leite. Quando veio Enzo, as coisas foram diferentes. O leite não desceu com a mesma facilidade e rapidez como da primeira vez, mas quando veio, também foi em grande quantidade, a ponto de espirrar e vazar.

Foi aí que o esposo de Valléria teve a ideia de procurar ajuda de um banco de leite e ambos se dirigiram a unidade do Hospital Geral. “Lá eu fui muito bem acolhida […] Me ensinaram, me orientaram a fazer a limpeza, a higienização e eu tirei já um vidrinho. Comecei com um vidrinho, passei pra dois vidrinhos. Depois precisei de mais vidrinhos porque não estava dando conta”, lembra a doadora, que em pouco tempo já estava extraindo e doando 5 frascos de leite por semana, que ajudaram muitos bebês prematuros internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal daquele hospital.
Questionada sobre o que a sensibilizou a tomar a decisão de se tornar uma doadora de leite humano, Valléria relata: “Quando eu cheguei [no banco de leite], tinha uma mãe lá tentando [amamentar] e não conseguia. E eu com tanto leite… Foi tudo novo para mim, mas, a partir do momento em que eu pisei no banco de leite, eu já quis deixar o meu leite lá”.
Valléria destaca que, graças a essa extração do excedente de leite que produzia, não teve problemas como ingurgitamento dos seios e mastite. Ressalta ainda que buscava manter os cuidados necessários para manter a segurança e qualidade de sua doação. “Eu me cuidava ao máximo porque eu estava alimentando vidas. Não era só o meu filho”, disse.
A mãe e doadora contribuiu durante 9 meses com seu leite e afirma que até o dia em que foi convidada pela equipe do banco de leite para conhecer a UTI neonatal, lugar onde estavam os bebês que ela e seu filho Enzo tanto ajudaram, não fazia ideia do quanto aquele gesto representava. “Quando me convidaram para o meu primeiro café da manhã no hospital, foi uma experiência gigantesca. Eu falava: por que eu? Olha o papel que eu estou tendo de representar as mães. E eu não tinha noção de como era lá dentro da UTI. Foi maravilhoso! Eu não tenho noção de quantas crianças eu já ajudei, mas sei da importância”.
Ao fim de seu relato, Valléria deixou uma mensagem de incentivo para as mães que amamentam e que podem doar leite humano. “As mães que ainda não têm o conhecimento, as mães que assim como eu na primeira gestação não tinha noção da importância de doar o leite, procurem o banco de leite, vejam vídeos, vão atrás de um apoio porque é muito importante”.
Visão dos profissionais
Convidada para realizar a palestra magna sobre doação de leite humano, Miriam Oliveira dos Santos, que trabalha na rede de bancos de leite humano do Distrito Federal e é membro da Comissão Nacional de Bancos de Leite Humano, pontuou que as mulheres não precisam ser grandes produtoras de leite, como foi Valléria, para ser doadoras. “A mulher não precisa encher um frasco de uma vez. Ela pode levar até 10 dias para encher o pote e aí ela manda pro banco de leite. Esse leite vai passar por um rigoroso controle de qualidade, ser pasteurizado e distribuído”.
Miriam explica que o prazo é de 10 dias (5 dias a menos do que o prazo para uso doméstico) por conta da logística para que o leite passe pelos procedimentos antes de ser oferecido ao bebê prematuro internado em UTI neonatal). A profissional lembra também que um frasco com 300 ml de leite humano pode alimentar até 10 bebês.
O nutricionista e responsável técnico da Equipe de Promoção do Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável da Secretaria de Estado de Saúde (COPHS/SAS/SES-MT), Rodrigo Carvalho, enfatizou a importância dos bancos de leite na captação e orientação das mães doadoras. “Não existe quantidade mínima. A mulher pode doar qualquer quantidade, desde que ela compreenda a importância dessa doação. E o banco de leite é que faz a diferença para ela compreender esse papel de solidariedade e que ela não precisa encher 5 frascos por semana, mas se ela conseguir tudo bem”.






Saiba onde doar
Em Mato Grosso, há três bancos de leite humano e dois postos de coleta credenciados. Somente em Cuiabá, são mantidos dois bancos de leite humano – um no Hospital Geral de Cuiabá e outro no Hospital Universitário Júlio Müller – e postos de coleta na Femina Hospital e Maternidade e no Hospital Santa Helena. Além das unidades em Cuiabá, há um banco de leite humano na Santa Casa de Rondonópolis. Além de leite humano, qualquer pessoa pode doar frascos de vidro com tampa plástica rosqueável para armazenar o leite materno.